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domingo, 17 de outubro de 2010

Análise: O Escafandro e a Borboleta

Já faz algum tempo que quero começar um novo tipo de post, fazer Top 5's é divertido, mas chega a cansar, então aqui estamos, no primeiro Post do tipo "[Necessário]". O que isso quer dizer, você pode se perguntar. Bem, esse tipo de post vai fazer referência à obras que você simplesmente PRECISA conhecer, sejam elas livros, filmes, séries de tv, quadrinhos, jogos ou bandas, você tem que conhecer, e garanto que não vai se arrepender.
Não consegui pensar em obra melhor para começar do que O Escafandro e a Borboleta.
Jean-Dominique Bauby, era um famoso jornalista e escritor frances, editor da revista Elle do mesmo país, até que, no dia 8 de dezembro de 1995, sofre um gravíssimo acidente vascular cerebral que o deixa com a rara condição de Síndrome do Encarceiramento, que é quando todo o seu corpo fica paralizado, mas as faculdades mentais permanecem intactas. Jean-Do, como era chamado pelos mais íntimos, passou a se comunicar apenas piscando o seu olho esquerdo.
Para este fim foi desenvolvido o seguinte sistema: o emissor cita o alfabeto (em ordem de frequência das letras na lingua francesa) para Bauby, e ele pisca quando chega na letra que ele deseja, e assim, letra por letra, são formadas palavras e frases e aí por diante.
E foi desse jeito que Bauby (lentamente) escreveu o seu livro, onde nos banhava com memórias, sonhos e descrições de sua vida no hospital. Como ele próprio diz, o seu escafandro se tornava menos opressivo e sua mente tomava vôo como uma borboleta. Tudo na sua nova vida era relatado em mais um capítulo de seu livro: o ócio dos domingos, as memórias de suas várias viagens, suas idéias para uma peça que planejava escrever baseada em sua atual situação, a Cinecittá (uma parte do hospital que era tão bela que o lembrava de cenários de cinema), as visitas de seus amigos, seus sonhos e etc.
Além de seu olho duas coisas não estavam paralisadas, também diz em certo ponto, sua memória e sua imaginação, graças ao primeiro ele podia relembrar de como ele era bonito, charmoso, e com uma boa vida, lembra de seus três filhos, a quem dedicara seu livro, lembra de sua ex-esposa, e de barbear o seu pai e do pecado que planejava cometer contra a literatura (reescrever O Conde De Monte Cristo). Com sua imaginação ele poderia sair para jantar nos melhores restaurantes do mundo, beijar a Imperatriz Eugénie e "realizar seus sonhos de criança e abições de adulto"

O livro é maravilhoso mas é o filme que chama mais atenção. A Direção pesada de Julian Schnabel pode ser difícil para quem assiste, mas quem aguenta recebe em retorno uma das melhores experiências cinematográficas da década. Schnabel passa os primeiros quarenta minutos do filme nos mostrando o ângulo de Bauby (interpretado por Mathieu Almaric, como sempre, ótimo) na mesma posição de seu olho, só vemos o seu rosto torto em momento avançado do filme, não por coincidência, quando o personagem decide parar de ter pena de si mesmo.
Schnabel leva qualquer tipo de metáfora a outro nível, e não só o escafandro e a borboleta do título, o degelo ártico e até fotos de Marlon Brando entram na dança de símbolos e interpretações e resultam num filme inesquecível. Esses momentos tem seu ponto alto quando saem os diálogos e o filme passa a ser narrado por Bauby, são passagens dos livros e até mais, que unidos as mais diversas imagens fazem desse filme o mais próximo que o cinema chegou de pura poesia.
É uma pena que o verdadeiro Bauby não viveu o suficiente para ver sua obra se tornar num filme, e nem mesmo para aproveitar o sucesso de seu livro, pois morreu apenas dez dias após o seu lançamento, em 9 de março de 1997, aos 44 anos.

NOTAS:
O Escafandro e a Borboleta (Livro): 9,8
O Escafandro e a Borboleta (Filme): 10,0

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