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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Análise: AVATAR

Você conhece Avatar. A menos que tenha estado enterrado em baixo de dúzias de pedras escondido numa caverna você sabe que o novo filme de James Cameron foi o filme de maior sucesso comercial da história da humanidade.
Da mesma forma que você sabe que do mesmo jeito que esse filme tem muitos fãs ele também tem muitos críticos, e a maioria usa do mesmo argumento: O filme é previsível.

Antes de responder essa crítica, vamos dar uma olhada na história. No futuro, os homens já sabem viajar no espaço. e com a conquista da última fronteira eles descobriram uma pequena lua chamada Pandora, cuja geografia em muito se assemelha a da terra.
Esta lua desperta muitos interesses nos humanos, uma parte deseja destruir Pandora (assim como fez com a terra) para juntar Unobtanium, um material que vende por 20 bilhões o quilo. Já outro grupo, composto principalmente por cientistas, desejam estudar a fauna e flora do lugar, assim com seus nativos, os Na'vi, seres humanóides azuis de 3 metros de altura.
É aí que entra nosso protagonista Jake Sully, seu irmão gêmeo, Thomas, era um cientista trabalhando no 'Projeto Avatar' (embora nunca tenha sido chamado por esse nome no filme) em que mistura-se DNA humano e Na'vi para criar um ser híbrido que possa sobreviver à atmosfera e ambiente hostis aos homens. Esses híbridos seriam comandados remotamente pelos seus "pilotos" humanos por meio de transferência de consciência.
Bem, Thomas morre em um assalto, e seu irmão, confinado numa cadeira de rodas, é chamado para substituí-lo, já que ninguém quer perder um investimento grande como este. Jake assume um Avatar, sai andando pela floresta, encontra Neytiri e é integrado no clã de seu povo, enquanto ele se encanta cada vez mais com a cultura dos Na'vi, um de seus chefes quer se aproveitar desse nível de intimidade para descobrir maneiras de expulsá-los de suas casas e pegar mais Unobtanium.

Agora às críticas: o filme é previsível. Sim, sem sombra de dúvidas. Só de ler a sinopse e assitir o trailer não é preciso ser um gênio para descobrir o final. E conforme o filme progride mais óbvias as coisas se tornam [SPOILERS começam aqui] assim que Jake encontra Neytiri a primeira vez você que eles vão ficar juntos, assim que aparece aquele pássaro vermelho gigante você sabe que Jake vai domá-lo, assim que eles tentam transferir permanentemente a consciência da doutora Grace você sabe que eles vão fazer o mesmo com Jake [SPOILERS terminaram aqui] , sim o filme é previsível, a história nada mais é do que Pocahontas contada de outro jeito.
Mas qual é o problema disso? Porque um filme não pode ser simples? e devo lembrar do ótimo filme de 2001 Jogo de Intrigas (O) uma reimaginação moderna da clássica peça de Shakespeare Othello, qualquer um familiar com essa história sabe o que vai acontecer, mas em casos como esses não importa que rumo a história tome, o que importa é o mundo em que ela acontece.

E o mundo de Avatar é fantástico e (para o ódio dos críticos) complexo.
Volte um pouco o texto e dê uma olhada na minha sinopse do filme, ela tem 4 parágrafos, e eu usei apenas o último para contar a história, precisei de três para descrever o mundo em que ela se passava. James Cameron não poupou esforços para fazer de Pandora o mundo falso mais crível de todos.
E isso se mostra nos detalhes, em cada pedaço de planta, cada árvore. Cada animal, seja ele voador ou terrestre vive e respira como o mais real dos homens. Cada mosquito que passa pela tela tem sua própria fisiologia e anatomia. James Cameron invetou uma religião, uma cultura, um idioma. A riqueza de detalhes é tão grande que é impossível não se apaixonar por pandora.
E é claro que tudo isso não seria tão impactante caso a qualidade da produção não fosse boa. Mas, por sorte, os méritos técnicos do filme são os maiores. O mundo é cheio de cor e vida, as expressões nos rostos de cada Na'vi é real, cada músculo é animado, e mesmo quando os seres de computação gráfica dividem a tela com atores filmados, o efeito não perde sua realidade, pelo contrário, é quando você vê Neytiri por a mão no rosto humano de Jake que você pensa que ela tem que ser real, que nenhum computador poderia criar uma imagem com tanta perfeição.


O filme estreou pela primeira vez dia 18 de dezembro do ano passado, e minha análise só esta sendo postada agora. Isso é porque essa semana estreou por tempo limitado e só em salas 3D a edição especial estendida do filme, com 8 minutos de cenas inéditas.
Quem não teve oportunidade de assistir ao filme no cinema, ou que não pode vê-lo em 3D na vez que foi, indico que não percam essa chance. Mas pra quem já assistiu, os únicos atrativos são as cenas extras. Vamos à elas:
No total, os oito minutos se dividem em 6 novas cenas além de extensões de poucos segundos a cenas já existentes, a primeira: mais exemplares da fauna local, durante o primeiro sobrevôo de Jake por pandora. a segunda: quando eles descem na floresta pela primeira vez, antes do encontro com o Titanoteres, Jake, Norm e Grace visitam os restos da escola onde Grace ensinava inglês aos Na'vi. a terceira: uma cena de caça, logo depois que Jake domina seu Banshee Voador. a quarta: a famosa cena de sexo de Jake e Neytiri, onde eles fazem uma ligação. a quinta: um ataque dos Na'vi contra os humanos, com vítimas. e a sexta: Jake fazendo as pazes e sacrificando Tsu'tey o segundo líder do clã.
Cada uma dessas cenas, sem exceção, fazem um ótimo trabalho em trazer novo fôlego ao filme, fazendo valer mais um ingresso para quem já assitiu. E para os fãs do 3D de "coisas jogadas na sua cara" a nova cena de caça é um banquete.
Fiquei surpreso como, mesmo vendo o filme pela quarta vez ainda consegui me surpreender com a beleza de pandora, não me canso de viajar para esse mundo, e mal posso esperar pelo Blu-ray edição especial de colecionador, que contem o filme com 15 minutos de cenas extras.

NOTA:
Avatar: 10,0

P.s.: Tenho um professor que infla o peito para dizer que James Cameron é um louco porque em uma entrevista ele disse que "os Na'vi tem muito o que nos ensinar", e como foi ele quem criou os Na'vi é ele quem deveria ditar as novas regras do mundo. Espero que todos que leiam esse blog compartilhem do meu sentimento quando eu digo que tal crítica, de tão absurda, nem deve ser glorificada com uma resposta.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dica: Fall Season 2010

O Fall Season é a temporada de estréia das séries americanas, onde as novas séries nos deliciam com seus (na maioria das vezes bons) pilotos, as séries que já existiam voltam com novidades, e as séries que foram canceladas não aparecem mais.

Então aqui estão as minhas escolhas para o Fall Season desse ano, se você gosta de séries de TV sabe que tem muitas novidades interessantes esse ano, eu já assisti o piloto de todas essas séries, menos de duas, uma que já baixei mas não assisti ainda e uma que ainda não estreou.

Lembre-se que isso não é um [TOP], apenas uma lista indo por ordem alfabética, e que vou me conter apenas com as séries novas, já que se você se interessa por séries imagina-se que você já sabe as que gosta que estão voltando.


Boardwalk Empire

Série que conta a história (quase) real de Nucky Thompson (baseado em Enoch Johnson) e sua vida mafiosa junto com outros personagens reais e famosos como Lucky Luciano e Al Capone. Se passa nos anos 20 na época em que a lei seca acabara de entrar em vigor e vender alcóol ilegalmente dava muito dinheiro. A série apadrinhada por ninguém menos que Martin Scorcese é também criada por Terence Winter, o criador da mais famosa série mafiosa de todas, Família Soprano. Com selo de qualidade HBO.


Nikita

A CIA cria a arma de matar perfeita, mas não dá inteiramente certo, e ela (sim, uma mulher) passa a ser o alvo prioritário da agência. Geralmente não gosto de séries desse tipo (me lembra de Humam Target, que pra mim foi meio que uma decepção) mas a cada novo comercial que vejo, tenho mais vontade de assisti-la.


No Ordinary Family

A história do quarteto (não tão) fantástico. Família que estava cada vez mais separada emocionalmente e decide sair em uma viagem para o Brasil (pasme!) e acaba num acidente que gera super poderes para cada um. É como Heroes mais engraçado e com mais efeitos especiais.


The Event

Mais uma que vem querendo se tornar o novo Lost. Esta é mais uma série que prometa diversas perguntas e nenhuma resposta, pelo menos não por enquanto. Eu não posso falar muito sobre ela porque eu simplesmente não sei o que diabos está acontecendo naquele troço. Só sei que tem um tal de um evento que vai acontecer, e que tem gente que sabe de alguma coisa.


UnderCovers

A nova série do gênio por trás de Alias e deus por trás de Lost. Essa se trata de um casal de ex-espiões que sai de sua vida pacata e normal para começarem a trabalhar juntos. Entretenimento divertido, engraçado e cheio de ação, do tipo que JJ Abrams sabe fazer.

The Walking Dead

Baseado na série de quadrinhos aclamada por ter revolucionado todo o gênero Zumbi. Fala sobre Rick, um policial que acorda de um coma no meio de um apocalipse zumbi, e se vê obrigado a tentar sobreviver.

Análise: O Inimigo Agora é Outro

O grande sucesso de 2007 Tropa de Elite deixou muita gente chocada, a atitude badass, bandido-bom-é-bandido-morto foi tida como novidade para muitos, filmes violentos já eram comum no cinema nacional, vide Carandiru e Cidade de Deus, mas pela primeira vez a violência era mostrada do lado certo da lei, com o Batalhão de Operações Especiais subindo o morro e matando toda sorte de traficante.
3 anos se passaram e Tropa de Elite voltou, e posso dizer que o filme não poderia ter tomado rumo mais inusitado.

Fato: a segunda aventura de Capitão (agora Tenente-Comandante) Nascimento é muito menos violenta e trás menos ação, a primeira cena pode levar a crer no contrário, mas não se deixe enganar, as grandes batalhas deste filme são travadas com palavras.
Como diz o subtítulo o inimigo agora é outro, e também é a forma de combatê-lo, Tropa 2 deixa os morros e parte para os prédios públicos do governo do Rio de Janeiro, se no primeiro filme o vilão era o traficante conhecido como o Baiano, na sequência Deputados e até o Governador entram como antagonistas.

Nascimento saiu do Bope, mas isso não funcionou e ele teve que voltar, agora no comando ele e Capitão André Mathias entram para cuidar da situação caótica que tomou conta da penitenciária de segurança máxima Bangu I, lá, eles fazem o que sabem melhor, atiram primeiro e perguntam depois. Quem não gosta desta atitude é Fraga, ativista dos direitos humanos e maior crítico do BOPE.

Em ano de eleição uma matança num presídio é catástrofe, e o governador queria que alguém pagasse por isso, como a população está do lado de Nascimento, este foi promovido para Sub-Secretário de Segurança, responsável por todas as escutas, sobrou para Mathias que foi expulso do BOPE e voltou para a polícia militar. Enquanto isso, Fraga é eleito deputado, junto com o Secretário de Segurança e o âncora de um programa de televisão de muito sucesso ao estilo Datena.
Em seu novo cargo, nascimento leva a Tropa de Elite a patamares nunca antes alcançados. A Tropa se transformou numa máquina de guerra que eliminou o tráfico em quase toda a zona oeste do rio, mas em vez de acabar com a corrupção, isso só fez os policiais corruptos perceberem que eles podem ganhar muito mais do que aquela "mesada" dos traficantes se eles tomassem conta da comunidade, criando assim as Milícias, que receberam apoio dos governantes que gostavam dos votos que viam das áreas dominadas.

O que o filme perde em ação, ganha em história. É claro que Nascimento não pode simplesmente juntar um grupo e atirar na cara do governador, todas as cenas de ação do filme juntas devem ser do mesmo tamanho dos primeiros minutos do primeiro filme. Esse filme também não tem tantas partes que podem se tornar bordões do povo brasileiro como no primeiro, com exceção de algumas frases exageradíssimas como "Cada cachorro que lamba sua caceta", "Quer me foder, me beija" e "Ele se acha o pomba das galáxias" duvido que a juventude fique repetindo frases do filme incansavelmente Brasil afora como foi no primeiro.
Embora possa estar exagerando e provavelmente até forçando uma comparação, mas vejo Tropa de Elite 2 como um Batman - O Cavaleiro das Trevas brasileiro. O primeiro filme foi ótimo e fez muito sucesso, mas o segundo trouxe uma história verdeiramente épica e magnífica, que vai continuar na minha mente por muito tempo.
A ação pode ser menor, mas o filme é muito mais tenso, a cada nova cena, a cada novo acontecimento, o espectador está com o coração na boca. José Padilha definitivamente nos trouxe um dos melhores filmes do ano.

NOTA:
Tropa de Elite 2: 10,0

domingo, 17 de outubro de 2010

Análise: O Escafandro e a Borboleta

Já faz algum tempo que quero começar um novo tipo de post, fazer Top 5's é divertido, mas chega a cansar, então aqui estamos, no primeiro Post do tipo "[Necessário]". O que isso quer dizer, você pode se perguntar. Bem, esse tipo de post vai fazer referência à obras que você simplesmente PRECISA conhecer, sejam elas livros, filmes, séries de tv, quadrinhos, jogos ou bandas, você tem que conhecer, e garanto que não vai se arrepender.
Não consegui pensar em obra melhor para começar do que O Escafandro e a Borboleta.
Jean-Dominique Bauby, era um famoso jornalista e escritor frances, editor da revista Elle do mesmo país, até que, no dia 8 de dezembro de 1995, sofre um gravíssimo acidente vascular cerebral que o deixa com a rara condição de Síndrome do Encarceiramento, que é quando todo o seu corpo fica paralizado, mas as faculdades mentais permanecem intactas. Jean-Do, como era chamado pelos mais íntimos, passou a se comunicar apenas piscando o seu olho esquerdo.
Para este fim foi desenvolvido o seguinte sistema: o emissor cita o alfabeto (em ordem de frequência das letras na lingua francesa) para Bauby, e ele pisca quando chega na letra que ele deseja, e assim, letra por letra, são formadas palavras e frases e aí por diante.
E foi desse jeito que Bauby (lentamente) escreveu o seu livro, onde nos banhava com memórias, sonhos e descrições de sua vida no hospital. Como ele próprio diz, o seu escafandro se tornava menos opressivo e sua mente tomava vôo como uma borboleta. Tudo na sua nova vida era relatado em mais um capítulo de seu livro: o ócio dos domingos, as memórias de suas várias viagens, suas idéias para uma peça que planejava escrever baseada em sua atual situação, a Cinecittá (uma parte do hospital que era tão bela que o lembrava de cenários de cinema), as visitas de seus amigos, seus sonhos e etc.
Além de seu olho duas coisas não estavam paralisadas, também diz em certo ponto, sua memória e sua imaginação, graças ao primeiro ele podia relembrar de como ele era bonito, charmoso, e com uma boa vida, lembra de seus três filhos, a quem dedicara seu livro, lembra de sua ex-esposa, e de barbear o seu pai e do pecado que planejava cometer contra a literatura (reescrever O Conde De Monte Cristo). Com sua imaginação ele poderia sair para jantar nos melhores restaurantes do mundo, beijar a Imperatriz Eugénie e "realizar seus sonhos de criança e abições de adulto"

O livro é maravilhoso mas é o filme que chama mais atenção. A Direção pesada de Julian Schnabel pode ser difícil para quem assiste, mas quem aguenta recebe em retorno uma das melhores experiências cinematográficas da década. Schnabel passa os primeiros quarenta minutos do filme nos mostrando o ângulo de Bauby (interpretado por Mathieu Almaric, como sempre, ótimo) na mesma posição de seu olho, só vemos o seu rosto torto em momento avançado do filme, não por coincidência, quando o personagem decide parar de ter pena de si mesmo.
Schnabel leva qualquer tipo de metáfora a outro nível, e não só o escafandro e a borboleta do título, o degelo ártico e até fotos de Marlon Brando entram na dança de símbolos e interpretações e resultam num filme inesquecível. Esses momentos tem seu ponto alto quando saem os diálogos e o filme passa a ser narrado por Bauby, são passagens dos livros e até mais, que unidos as mais diversas imagens fazem desse filme o mais próximo que o cinema chegou de pura poesia.
É uma pena que o verdadeiro Bauby não viveu o suficiente para ver sua obra se tornar num filme, e nem mesmo para aproveitar o sucesso de seu livro, pois morreu apenas dez dias após o seu lançamento, em 9 de março de 1997, aos 44 anos.

NOTAS:
O Escafandro e a Borboleta (Livro): 9,8
O Escafandro e a Borboleta (Filme): 10,0